sexta-feira, 20 de maio de 2011

Wishlist #3

 Cá está um livro que eu quero ler ... mais um :D
A verdade é que já o comecei e ainda não acabei o "Nunca me esqueças" mas como tinha de o ler para a escola para o apresentar num trabalho de Filosofia aproveitei para o ler agora e já.
Fiz então uma interrupção no "Nunca me esqueças" e comecei a ler "A Aparição"

O trabalho de Filosofia é já para apresentar na 3ª ou 4ª feira e eu ainda só vou na página 42 de 273 !

Aparição

"Sento-me aqui nesta sala vazia e relembro. Uma lua quente de verão entra pela varanda, ilumina uma jarra de flores sobre a mesa. Olho essa jarra, essas flores, e escuto o indicio de um rumor de vida, o sinal obscuro de uma memória de origem. No chão da velha casa a água da Lua fascina-me. Tento, há quantos anos, vencer a dureza dos dias, das ideias solidificadas, a espessura dos hábitos, que me constrange e tranquiliza. Tento descobrir a face última das coisas e ler aí a minha verdade perfeita. Mas tudo esquece tão cedo, tudo é tão cedo inacessível. Nesta casa enorme e deserta, nesta noite ofegante, neste silêncio de estalactites, a Lua sabe a minha voz primordial. Venho à varanda e debruço-me para a noite. Uma aragem quente banha-me a face, os cães ladram ao longe desde o escuro das quintas, fremem no ar os insectos nocturnos. Ah! O Sol ilude e reconforta. Esta cadeira em que me sento, a mesa, o cinzeiro de vidro, eram objectos inertes, dominados, todos revelados ás minhas mãos. Eis que os trespassa agora este fluido inicial e uma presença estremece na sua face de espectros... mas dizer isto é tão absurdo! Sinto, sinto nas vísceras a aparição fantástica das coisas, das ideias, de mim, e uma palavra que eu diga coalha-me logo em pedra. Nada mais há na vida do que o sentir original, aí onde mal se instalam as palavras, como cinturões de ferro, aonde não chega o comércio das ideias cunhadas que circulam, se guardam nas algibeiras. Eu te odeio, meu irmão das palavras que já sabes um vocábulo para este alarme de vísceras e dormes depois tranquilo e me apontas a cartilha onde tudo já vinha escrito... e eu te digo que nada estava ainda escrito, porque é novo e fugaz e invenção de cada hora o que nos vibra nos ossos e nos escorre de suor quando se ergue à nossa face."



Livro de Vergílio Ferreira que retrata o Existencialismo na primeira pessoa !

1 comentário:

  1. Obrigada , vou ver se posto a próxima parte ainda hoje :)

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