Para que "a feminista disfarçada de defensora dos direitos à igualdade" não seja a única a ter esta opinião, aqui vai um relato de um grande amigo meu, com o qual concordo plenamente!
Go, boy!
"HOMENS E CÃES ENTRAM.
MULHERES NÃO.
É com este slogan que a barbearia
Figaro´s brinda os seus clientes. Trata-se de um local elegante, inspirado na
Opera de Rossini, gerido por indivíduos jovens, mas com a ancestral habilidade
de relegar o outro sexo para segundo plano. Mulheres não entram!
Estando no século XXI, quarenta
anos após o fim da ditadura e perante a tal geração mais qualificada de sempre,
reconheço a minha dificuldade em compreender o quadro mental de certos
concidadãos. Ainda que se tenha constituído como lugar-comum pugnar pelo
direito à igualdade de tratamento entre géneros, continuam a subsistir
resquícios de uma certa sociedade antiquada, paternalista, se não mesmo
machista, em Portugal.
Não tenho nada contra os
sentimentos nostálgicos e respetivas tentativas de reprodução de época, desde
que não violem o espírito da época atual. Ora, voltando à Figaro´s,
questiono-me como é possível alguém considerar que pode passar impune perante
tal afronta ao princípio da igualdade.
Enquanto esbugalhava os olhos
naquele slogan, veio-me à memória uma contestação que realizei no passado. Estava
num encontro de Jovens de Esquerda, todos com ligeiramente menos idade do que
os gerentes desta barbearia, e contestei as Ladies
Night. Afirmava que se tratava de uma prática comercial abusiva e lesiva do
princípio constitucional da igualdade, o qual ninguém negava, mas que ainda
assim ninguém aparentemente estava disposto a assumir.
Esta recordação deu-me a primeira
resposta para a impunidade com que estes gerentes comerciais barram a entrada a
mulheres: a sociedade está disposta a aceitar estas discriminações, inclusive
nas camadas mais jovens da população portuguesa, tal é a passividade com que
convivem com manifestações de injustiça, expressas em jornais, televisão,
rádio, internet ou outras.
Não querendo entrar numa disputa
de argumentos que é desnecessária perante tamanhas evidências, não deixo de
considerar completamente ridículas as opiniões de que “as mulheres têm o
direito de não ir àquela barbearia”, “crie-se um cabeleireiro com proibição à
entrada de homens” e tantas outras fantochadas mais. Neste caso, como nas Ladies Night, todo e qualquer cidadão
está a ser lesado, porque tem o direito de ser tratado com igualdade em
qualquer estabelecimento público português, constituindo-se todo e qualquer desvio
como uma alfinetada na Lei. Ponto final parágrafo!
“Mas porque é que te preocupas
tanto com isto?”, indagam-me alguns amigos.
A resposta é simples: porque
considero-me um agente de mudança (“um Político”) que procura que a sociedade
se encaminhe para um futuro mais promissor, sendo que neste caso vejo a
igualdade entre géneros como um requisito para um futuro melhor.
“Ok e qual é o problema da
barbearia e das Ladies Night?”
Bom, enquanto tivermos uma
sociedade conivente com práticas que tratem os géneros de forma ostensivamente
discriminatória, não estaremos em condições de dar o salto qualitativo, isto é,
não teremos uma sociedade pró-ativa na defesa da igualdade. Seria um pouco como
querer erigir o telhado (defender salários iguais para tarefas iguais), sem a
preparação dos solos (aceitar normal que mulheres sejam barradas à porta de uma
barbearia, porque sim; ou mulheres pagarem menos do que os homens, porque sim).
De qualquer modo, espero que um
dia, alguém com a humildade suficiente, tenha a coragem de vir ter comigo e
dizer: “Daniel, afinal, tinhas razão.”
Com os melhores cumprimentos,
Daniel Gomes"
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