sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Uma opinião masculina



Para que "a feminista disfarçada de defensora dos direitos à igualdade" não seja a única a ter esta opinião, aqui vai um relato de um grande amigo meu, com o qual concordo plenamente!
Go, boy!

"HOMENS E CÃES ENTRAM. MULHERES NÃO.

É com este slogan que a barbearia Figaro´s brinda os seus clientes. Trata-se de um local elegante, inspirado na Opera de Rossini, gerido por indivíduos jovens, mas com a ancestral habilidade de relegar o outro sexo para segundo plano. Mulheres não entram!
Estando no século XXI, quarenta anos após o fim da ditadura e perante a tal geração mais qualificada de sempre, reconheço a minha dificuldade em compreender o quadro mental de certos concidadãos. Ainda que se tenha constituído como lugar-comum pugnar pelo direito à igualdade de tratamento entre géneros, continuam a subsistir resquícios de uma certa sociedade antiquada, paternalista, se não mesmo machista, em Portugal.
Não tenho nada contra os sentimentos nostálgicos e respetivas tentativas de reprodução de época, desde que não violem o espírito da época atual. Ora, voltando à Figaro´s, questiono-me como é possível alguém considerar que pode passar impune perante tal afronta ao princípio da igualdade.
Enquanto esbugalhava os olhos naquele slogan, veio-me à memória uma contestação que realizei no passado. Estava num encontro de Jovens de Esquerda, todos com ligeiramente menos idade do que os gerentes desta barbearia, e contestei as Ladies Night. Afirmava que se tratava de uma prática comercial abusiva e lesiva do princípio constitucional da igualdade, o qual ninguém negava, mas que ainda assim ninguém aparentemente estava disposto a assumir.
Esta recordação deu-me a primeira resposta para a impunidade com que estes gerentes comerciais barram a entrada a mulheres: a sociedade está disposta a aceitar estas discriminações, inclusive nas camadas mais jovens da população portuguesa, tal é a passividade com que convivem com manifestações de injustiça, expressas em jornais, televisão, rádio, internet ou outras.
Não querendo entrar numa disputa de argumentos que é desnecessária perante tamanhas evidências, não deixo de considerar completamente ridículas as opiniões de que “as mulheres têm o direito de não ir àquela barbearia”, “crie-se um cabeleireiro com proibição à entrada de homens” e tantas outras fantochadas mais. Neste caso, como nas Ladies Night, todo e qualquer cidadão está a ser lesado, porque tem o direito de ser tratado com igualdade em qualquer estabelecimento público português, constituindo-se todo e qualquer desvio como uma alfinetada na Lei. Ponto final parágrafo!
“Mas porque é que te preocupas tanto com isto?”, indagam-me alguns amigos.
A resposta é simples: porque considero-me um agente de mudança (“um Político”) que procura que a sociedade se encaminhe para um futuro mais promissor, sendo que neste caso vejo a igualdade entre géneros como um requisito para um futuro melhor.
“Ok e qual é o problema da barbearia e das Ladies Night?”
Bom, enquanto tivermos uma sociedade conivente com práticas que tratem os géneros de forma ostensivamente discriminatória, não estaremos em condições de dar o salto qualitativo, isto é, não teremos uma sociedade pró-ativa na defesa da igualdade. Seria um pouco como querer erigir o telhado (defender salários iguais para tarefas iguais), sem a preparação dos solos (aceitar normal que mulheres sejam barradas à porta de uma barbearia, porque sim; ou mulheres pagarem menos do que os homens, porque sim).
De qualquer modo, espero que um dia, alguém com a humildade suficiente, tenha a coragem de vir ter comigo e dizer: “Daniel, afinal, tinhas razão.”


Com os melhores cumprimentos,
Daniel Gomes"

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