segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Destino vs. Karma




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Não sei se já vos aconteceu o mesmo, mas comigo aconteceu-me uma coisa muito estranha. 
Quando cheguei à faculdade tinha toda uma panóplia de assuntos programados e pré-determinados para fazer, uma pesquisa intensiva, feita em casa, de associações e organizações às quais ia pertencer, todo um novo mundo social por descobrir, uma vontade doida de começar de novo, uma sede implacável de deixar de ser estúpida e anti-social e renascer que nem uma fénix. A faculdade ia ser todo um mundo novo: não ia ser mais gozada por ser "estranha", não ia mais ser estranha para as outras pessoas e para mim própria, ia ter pares iguais a mim ou muito parecidos, com os mesmos ideais e numa luta constante, mesmo que idealista, por um mundo melhor.

E é o que dizem: as pessoas não mudam assim tão facilmente e um estranho será sempre um estranho. Continuo estranha, a todos os níveis, mas agora sou feliz assim. Já não mais me importa o número de pessoas que conheço, o número de pessoas que me conhecem, o número de pessoas com quem me envolvo... importa-me a qualidade dessas pessoas!

A faculdade revelou-se, mesmo, todo um novo mundo e a conquista pelas organizações às quais ia pertencer começava desde o início. E é aqui que a coisa muito estranha começa.

Vi montes de gente, assisti a montes de situações, ouvi montes de conversas. Vi pessoas que disse "que giro que é"; "que cabelo perfeito"; "aquela olhou-me de forma esquisita"; "tenho alguma coisa na cara?"; "ó meu Deus é tão engraçada"; "ai, por favor"... "Ana, não te metas com aquela, tem mesmo cara de má!".

Durante algumas semanas baixei a cabeça na presença, no corredor, da "rapariga com cara de má", pensei que esperava que ela não fosse do meu curso e que não tivesse de conviver com ela muitas vezes, ia doer se isso acontecesse. Não aconteceu. Também não fui para essa organização.

Até que, como quem não quer a coisa, aparece o associativismo na minha vida, assim como um Boom gigante, tudo o que havia para fazer a nível político havia de ser feito em Maio de 2013, quer na faculdade quer num meio político "mais a sério".

E então, organizamo-nos por Pelouros, por áreas de interesse e começamos a discutir assuntos, ideias, atividades, vontades, sonhos, idealismos, ambições... adorava-as todas, sentia-me, finalmente, parte de um grupo que me compreendia. E, de repente, ela puxa uma cadeira, senta-se e pergunta "então e o que é que vamos fazer?"

Lembro-me de ter pensado: "Ó Meu Deus, por favor, não. Espero que ela não goste deste Pelouro e se mude para outro." "Não somos assim tão boas, aqueles ali são melhores" - tinha vontade de dizer. Optei por sorrir, baixar a cabeça e ler os apontamentos que tinha no caderno. Depois de ouvir atentamente o seu comentário, pensei "Jesus, ela fala tanto e tem sempre tanto para dizer". Lembro-me de ter chegado a casa e ter dito "Ana, lembras-te daquela miúda do ensaio? Faz parte da lista. Estou tramada!" 
Nas reuniões seguintes, não só descobri que a miúda ia passar imenso tempo comigo, como também ia trabalhar comigo e ainda por cima era minha superior! Ainda não sabia muito bem se só não gostava muito dela ou se tinha mesmo medo.

Bastaram duas reuniões preparatórias, uma dinâmica de grupo com ovos e batatas fritas e recordo-me perfeitamente de dizer ao chegar a casa "Ana, não tens noção da curiosidade que eu tenho em relação à vida dela".
Ainda antes do período de eleições já eu dizia "fogo, ela é mesmo fixe, não percebo o que é que se me passou pela cabeça"

Com as eleições ganhas, toda uma equipa para coordenar, planos para fazer, cronogramas para apresentar, deixei cair a minha bússola da ambição e... perdi-me! Não sabia fazer aquilo, não sabia o que tinha de fazer, não sabia como fazer, quando, onde, porquê; não tinha nem noção do que era aquele mundo e ia ter de perder férias para fazer tudo aquilo. Doíam-me as unhas e o processo ainda só era mental. Olhei para o chão, vi os estilhaços do vidro de cristal do meu manual de orientação, apanhei-os do chão, peguei no telefone e liguei para a Ana "miga, não sei o que fazer". Durante 6 meses ouviu-me reclamar, chorar, gritar, revoltar com centenas de coisas, insistir com outras... ouviu chamadas, conversas no Skype, encontros ocasionais, reuniões de circunstância, mas naquele momento, ainda de férias, disse-me: "precisavas mesmo de alguém que te ajudasse". Sim, a Ana tem esse dom. Desde o dia em que nos conhecemos foi sempre como luz na minha vida. Vi um filme que diz que todos temos um anjo na sombra. A minha sombra partilha quarto comigo ;)
Foi só pegar no telemóvel e quase instintivamente o número marcou-se. Eu só pensava "ó Rita és mesmo burra. Agora não podes desligar e a miúda vai achar que tu és um atraso de vida. Na verdade és, mas não era preciso saberem. Estou?! Olá... hum... Filipa, preciso de ajuda..." Tarde de mais, eu era um atraso de vida!

E assim, em finais de Agosto, com o sol do Verão e o calor de Coimbra, em plenas férias escolares, cheia de trabalho para levar uma faculdade para a frente, a "rapariga com cara de má" tinha tempo para me ouvir, tempo para me falar e uma história inteira para contar. Um simples "Boa tarde!" dava direito a escrever um livro. E tal e qual como um verdadeiro puzzle, as coisas encaixavam-se: uma ouvinte pura e uma faladora nata.

Numa tarde, transformada em carpinteira, a miúda que pensa igual a mim e tem os mesmos interesses que eu, consertou a bússola e trocou o Norte com o Sul: "Para de ser tão certinha, faz as coisas com tempo, sim, mas tira tempo para ti. Tempo não te falta, acredita no que eu te digo, tens tempo para mandar no mundo e és capaz de fazer isso, eu acredito em ti. Agora, estás só de férias."

Não sei se já vos aconteceu o mesmo, mas a miúda que eu receava esbarrar por acaso ou respirar nos mesmos metros quadrados transformou-se, sobre a calçada de Coimbra, numa das minhas melhores amigas, uma confidente, um porto seguro, uma fonte de informação e inspiração, uma irmã e uma das pessoas de quem eu mais gosto no mundo inteiro.

Não sei se já vos aconteceu o mesmo, mas o medo que eu sentia pelo desconhecido, fez-me acreditar que o meu idealismo pré-universitário estava certo: as pessoas iam surpreender-me. E ela foi a maior surpresa de toda a minha vida associativa!
Mesmo que eu quisesse encontrar alguém que fosse mais parecido comigo sendo tão ao contrário de mim, mesmo que o fizesse numa máquina da mais alta tecnologia japonesa, nunca ia conseguir recriar a empatia que existe entre nós... as três. A verdade é que toda a família se reuniu que nem "meninos à volta da fogueira" e eu, finalmente, tinha amigas! Não meia amiga, não uma amiga por conveniência, mas sim 2 amigas que tinham sempre motivos para rir, para festejar, que me mostravam o mundo e me ensinavam coisas e mesmo achando-me estranha, como serei sempre, era uma estranha amiga!

Apesar de ter desistido do que nos uniu, sei que a união fica e, espero eu, ficará para sempre! E se só não desisti mais cedo, foi porque tinha um anjinho protetor a acreditar em mim e a proteger-me as costas sempre que "punha a pata na poça". E agora é a minha vez, defender e proteger, a aprendiz a tratar da mestre, a leoa a cuidar da gatinha... e que o Sol do Verão e o Calor de Coimbra nos abençoem, que a calçada guarde os nossos segredos, que os nossos corações pulsem sangue suficiente para que o nosso cérebro trabalhe em conjunto e que seja sempre "um olhar que só nós sabemos".

Não sei se já vos aconteceu o mesmo, mas eu estou muito grata por o destino ser tão tramado e o karma tão lixado!

1 comentário:

  1. Anónimo31/1/14

    Eu sou o Anónimo Sexy e estou aqui para exprimir emoções, porque este texto afectou-me.

    Tu podes ser estranha. A F também é estranha e eu também sou fucking estranha. Aliás, somos todos estranhos, mas a estranheza de uns acaba por cair na rotina e torna-se normal. Tu não, tu tens a tua estranheza - é tua -, é o que te faz ser singular. E hoje ser singular é muito!

    Eu gosto de ti como és. Estranha. Porque para me aguentar, não poderia ser ninguém normal... Teria de ser estranho.
    Como diz uma pessoa do sexo masculino que muito me diz - Tu és perfeita neste mundo de imperfeições. (Eu empresto-te a frase ;) )

    Boa sorte com este projeto <3

    (Crítica, espero que construtiva: torna-se um pouco dificil ler as letras por serem tão clarinhas num fundo branco. Pensa que também epiléticos visitam o teu blog!)

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